domingo, 1 de agosto de 2010

...do sal e do sol


é sábio o teu desejo
quando transforma
a água pura
do meu rio
em oceanos de
imensidão orgástica

naufragado sobre ti
tento respirar em vão

sou apenas mais
um cristal que brilha
sob o teu sol

o teu sol
de tantos corpos
o teu sal de tantos mares

...da tua chuva


são nuvens de chuva dourada
as que pairam sobre mim

aguaceiros de prazer que
ensopam os terrenos outrora
áridos do meu corpo
onde agora florescem
os lírios do desejo

a tua chuva escorre-me
pelo corpo gota a gota
enquanto vou colhendo
com a ponta da língua
os sabores dourados
da tua tempestade

...do meu sémen


cai lentamente, muito devagarmente,
uma folha de sémen sacudida pela brisa
outonal que acaricia o meu pénis.

cai junto ao teu umbigo, estilhaçando-se
em não sei quantos ínfimos átomos
de uma vida já morta.

estilhaços que se separam e esvoaçam
em todas as direcções do sul. e do norte.
e do vento...

...dos meus corpos


...

vulvas incandescentes em noites
de invernos frios,
outras suaves, líquidas,
em tardes de verão tardio.

bocas entornadas de sémen,
ânforas de néctares
baconianos.

...

Obsessão


Em certos momentos obsessivos
de doçura e caos,
apenas a luz que me escorre das artérias
consegue indicar-me o mundo
húmido e escuro que existe em ti.

Dernorteados membros amputados de tino
que ganham vida por morte dos sentidos encarcerados
na gaiola que em todos os corpos de mulher existe.

Sou insecto encandeado pelo brilho
que nasce no teu ventre
e que morre sempre um pouco mais
em cada esvoaçar estonteado.

Ébrio de tanta luxúria e obsessão,
no doce caos em que me transformo,
escravo da terra, halo do mar, pedra de vida.